Análise dos indicadores de desempenho dos estudantes das escolas do campo na disciplina de matemática
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Ruth Cunha dos Santos1

Leila Damiana Almeida dos Santos Souza 2

Resumo

Este trabalho de pesquisa e análise propõe-se a identificar os indicadores de desempenho dos estudantes das escolas do campo, especificamente na disciplina de Matemática, considerando-se o baixo desempenho desses estudantes e resultados negativos, principalmente a avaliação SAEB – Sistema de Avaliação da Educação Básica, que faz parte do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB, estratégia governamental para fortalecer o processo avaliativo nas escolas públicas. Nessa assertiva, foram apontados indicadores pedagógicos e metodologias específicas como subsídios para as disciplinas avaliadas e ainda como indicador de desempenho das escolas das rede estadual e municipal do Estado da Bahia. Diante dos resultados das avaliações realizadas, que não se constituem motivo gratificante, mas sim preocupante, os docentes das escolas do campo optaram por identificar e analisar os descritores críticos, representantes de conteúdos não assimilados pelos estudantes campesinos, no intuito de minimizar essa problemática, objetivando melhorar ou aprimorar o desempenho, assim como a aprendizagem de Matemática, principalmete nas turmas que realizam avaliações para obterem resultados como capacidade, domínio e competência no estudo da disciplina de Matemática. Espera-se que este trabalho analítico culmine com um diagnóstico dos indicadores que dificultam o desempenho dos estudantes, propiciando estratégias para fortalecer o trabalho docente, culminando em condições apropriadas para que o mesmo seja um condutor eficaz no intuito de tornar o estudante um indivíduo crítico, social, evolutivo e partícipe da sociedade.

Palavras-chave: análise; desempenho; educação do campo

Introdução

Este artigo faz parte da pesquisa em andamento do Mestrado Profissional do Programa de Pós-Graduação em Educação Científica, Inclusão e Diversidade – PPGECID da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB. Está relacionado à análise dos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica da Bahia, em especial das escolas do campo.

Considerando-se os resultados sobre o baixo desempenho dos estudantes na avaliação externa Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB, um sistema responsável por avaliar o índice da Educação Básica – IDEB, foram implantadas estratégias pelo Governo do Estado da Bahia, no intuito de fortalecer o processo avaliativo nas unidades escolares. Nesse sentido, foram identificados indicadores pedagógicos para subsidiar a atuação da Secretaria Estadual de Educação e das escolas nos processos de aprendizagem dos estudantes, desenvolvendo metodologias específicas para as disciplinas avaliadas.

A identificação que se pretende realizar pelos docentes sobre os descritores críticos resultantes dos conteúdos que os estudantes não dominam se dá por diversos motivos, desde a defasagem idade-série, aos índices de repetência e evasão escolar em detrimento das não habilidades, desempenho e proficiência no domínio de números e operações básicas, como o não reconhecimento da álgebra e funções; não localizar objetos em representações gráficas, aspectos pertinentes a grandezas e medidas, como também resolver problemas envolvendo áreas de uma região. Esses indicadores induzem a análise dos processos de ensino e aprendizagem, possibilitando intervenções que propiciem melhorias no desempenho das operações matemáticas. Segundo Ferreira (1998, p.19), “para formular a teoria de mundo, ou seja, a cosmologia, cada sociedade recorre a maneiras diferenciadas de ordenar, classificar e quantificar a própria realidade, e os respectivos elementos culturais”. A autora remete ao ensino da matemática com o objetivo de entender as diversas culturas e conhecimentos expressos nos saberes populares, para uma aprendizagem significativa.

Nessa perspectiva, justifica-se a análise dos processos de ensino e aprendizagem através do novo indicador Índice de Desenvolvimento da Educação da Bahia – IDEBA, implantado pela Portaria Nº 1811/2022, publicado no Diário Oficial da Bahia no dia 30 de setembro de 2022, como um indicador de desempenho das escolas da rede estadual e municipal da Bahia.

Esta pesquisa pauta-se na problemática: Como promover a identificação pelos docentes de descritores críticos, que representam conteúdos e conceitos mais frágeis para os estudantes campesinos, permitindo a tomada de decisões e intervenções docentes no sentido de melhorar o desempenho e a aprendizagem de matemática dos estudantes das turmas que fazem as avaliações?

Dessa forma, tem-se como objetivo geral analisar os indicadores de desempenho dos estudantes no componente curricular de Matemática, com intuito de desenvolver estratégias para os processos de ensino e aprendizagem, através de uma intervenção metodológica levando em consideração as especificidades dos estudantes do campo.

Este artigo pressupõe um olhar específico para o desempenho dos estudantes campesinos de uma escola do campo da rede estadual de ensino do estado da Bahia, o Colégio Estadual do Campo Edivaldo Machado Boaventura – CECEMB, utilizando de dados amostrais inicialmente, a fim de compreender os processos de ensino aprendizagem nos conteúdos específicos, bem como acompanhar o nível de proficiência de aprendizagem nas disciplinas avaliadas.

Além disso, pretende-se fixar um olhar mais crítico quanto à aplicação de um instrumento nacional que é a prova SAEB, que não distingue o tempo de aprendizagem dos estudantes do campo e suas especificidades. Assim, como objetivos específicos, aponta-se: investigar os indicadores de desempenho dos estudantes nas avaliações nacionais e estaduais do IDEB e IDEBA, nos períodos de 2019 a 2023 em Matemática; fazer um mapeamento dos indicadores críticos do componente curricular de Matemática relacionados às provas do SAEB e SABE entre os anos de 2019, 2021 e 2023 dos estudantes do CECEMB e apresentar estratégias para os processos de ensino aprendizagem através de metodologias que dialoguem com a realidade dos estudantes campesinos.

Metodologia

Utilizou-se a Pesquisa Participante por ser esta de natureza qualitativa e, sobretudo, por não ser apenas uma ferramenta técnica para levantamento de dados. A referida abordagem também possibilita a recolha qualitativa de dados, mas antes de tudo requer dos participantes uma postura coletiva que se justifique pela maneira diferente de conceber, compreender e realizar o fazer científico, “a pesquisa participante tende a ser concebida como um instrumento, um método de ação científica, ou um momento de um trabalho popular de dimensão pedagógica e política” (Brandão, 2006, p. 21).

Nesse sentido, a Pesquisa Participante se adéqua às pretensões investigativas tanto por não descartar o rigor positivo que requer uma pesquisa, mas, sobretudo, pela “contribuição de sua prática na procura coletiva de conhecimentos que tornem o ser humano não apenas mais instruído e mais sábio, mas igualmente mais justo, livre, crítico, criativo, participativo, corresponsável e solidário” (Brandão, 2006, p. 25).

Como a pesquisa está em andamento, destaca-se que, procedimentalmente, as estratégias iniciais possíveis são: o levantamento bibliográfico e documental da temática. Assim, parte-se de estudos dos indicadores oficiais do MEC e SEC/BA e dos dados estatísticos que evidenciam o desempenho dos estudantes, como também da análise de descritores críticos que dificultam o desempenho pautando-se nos relatórios da disciplina de Matemática.

Haverá um estudo das avaliações externas como a prova do Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB, que age como parâmetro nacional do desempenho dos estudantes das escolas no Brasil, servindo-se como parâmetro para gerar o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB. A pesquisa inicial, que servirá de amostra, acontecerá no Colégio Estadual do Campo Edivaldo Machado Boaventura com os estudantes das turmas com terminalidades no ano letivo 2019, 2021 e 2023, os quais compreendem as turmas do 9º ano do Ensino Fundamental e as turmas da 3ª Série do Ensino Médio nos respectivos anos de observação.

As informações coletadas serão as Avaliações Diagnósticas e Formativas das respectivas turmas, que subsidiarão os parâmetros para análise dos descritores críticos com foco na disciplina de Matemática. A primeira avaliação diagnóstica servirá de parâmetro para a construção do plano de aulas dos professores nessas turmas. Já as avaliações formativas, que são realizadas ao longo do ano letivo, servirão de fomento para aprendizagem após detectar os descritores críticos na avaliação diagnóstica.

Nesta pesquisa, serão utilizadas considerações de autores que versam sobre avaliação e o SAEB, proporcionando maior embasamento teórico mediante pesquisa bibliográfica.

Ao analisar o desempenho das escolas do campo, deve-se tentar “ver e captar que o campo está vivo, que é um dos territórios sociais, políticos, econômicos e culturais de maior tensão, e que os povos do campo em sua rica diversidade, afirmam-se como sujeitos políticos em múltiplas ações coletivas” (Arroyo, 2015, p.11). Desta forma, notamos que os processos de ensino e aprendizagem devem permitir mudar a visão de uma escola pública campesina, na qual o papel social deverá considerar o contexto e a realidade de forma histórica e continuada.

Com os estudos iniciais percebe-se que a avaliação do SAEB envolve aspectos políticos e financeiros para o sistema de educação em todos os parâmetros. O governo do Estado da Bahia passou a ter um olhar mais fiscalizador do desempenho das Unidades Escolares (UE) e dos estudantes avaliados, a fim de acompanhar o alcance das metas diante dos descritores mais avaliados nas edições anteriores das provas SAEB.

Com critérios bem definidos para obtenção do IDEB, as instituições de ensino são avaliadas com base em metas específicas a serem alcançadas, sendo avaliados dados com base no censo escolar, aspectos referentes à aprovação, reprovação e evasão escolar, bem como a bem conhecida avaliação escrita dos estudantes em série de terminalidades.

Resultados e discussão

Ao analisar os resultados parciais da avaliação de desempenho SABE com o acompanhamento do indicador IDEBA, os professores poderão identificar os descritores pedagógicos que subsidiarão a atuação da SEC e das escolas nos processos de aprendizagem dos estudantes. As escolas recebem instrumentos avaliativos como: Avaliação Diagnóstica, Cadernos de Apoio, Avaliação Formativa e Avalição Somativa.

Cada instrumento foi elaborado com o objetivo de direcionar os professores a adotar novas estratégias de aprendizagem diante dos conteúdos e habilidades que precisam ser fortalecidos. Estes indicadores identificam o nível de proficiência dos alunos nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática.

Como resultados parciais, os estudantes do Colégio Estadual do Campo Edivaldo Machado Boaventura foram preparados pelo sistema SABE desde a implantação em 2019 para a avaliações SAEB/2019 e 2021. Diante dos instrumentos utilizados pela escola, foi constatado, quanto ao desempenho dos estudantes na disciplina de Matemática, que alguns descritores estavam em nível crítico na Avaliação Diagnóstica e que necessitavam de atenção especial.

Com esses parâmetros, os professores das áreas puderam traçar estratégias para fortalecer a aprendizagem desses descritores. Nos encontros pedagógicos de Atividades Complementares, ficou estabelecido em comum acordo que, durante as aulas de Matemática, haveria um momento para resolução das avaliações diagnósticas do SABE e análise dos estudantes e dos acertos e erros dos mesmos, além de utilizar o auxílio dos estudantes que são os monitores de Matemática para fomentar entre esses a resolução de questões de Avaliações do SAEB.

A respeito dos conteúdos semanais, estabeleceu-se que seria incluído o estudo de Geometria nas aulas de Matemática de forma contextualizada e com materiais concretos. Projetos da área de Matemática com foco na Geometria seriam realizados. Em maio de 2020 (período suspensão das aulas, devido à pandemia do Covid-19), a escola realizou uma avaliação diagnóstica, na qual permaneceram o estudo de Geometria e números racionais como principais descritores críticos.

Avaliar uma escola do campo num contexto generalizado e durante uma fase pandêmica, expõe a realidade da educação brasileira, particularmente as escolas campesinas. Segundo Caldart (2020, p. 6): “a função social que o sistema do capital tenta impor às escolas de forma muito mais ostensiva e insana nessa fase de enfrentamento de suas próprias crises, destrói o seu sentido social mais elementar.” Face a esse sistema capitalista e hegemônico que domina as classes menos favorecidas, a Educação do Campo e para o campo vem sendo renegada, e as conquistas conseguidas em árduas lutas deixadas de lado pelos principais gestores que lembram dessas apenas diante das suas necessidades específicas e publicitárias. Desta feita, não seria diferente ao enfrentar uma crise pandêmica mediante na qual muitos embates estão sendo travados, mas com poucos resultados tangíveis.

No ano de 2021, a rede estadual de ensino retorna às atividades com a modalidade do Ensino Remoto por seis meses (março-agosto). Neste período, os estudos como reforço dos pontos críticos foram trabalhados no Continuum Curricular 2020/2021, através da compensação de carga horária de 350 a 500 horas para o período letivo nas Atividades Curriculares Complementares – ACC. A área de Matemática continuou com algumas ações por selecionar conteúdos de maior relevância: resolução das avaliações externas para treinamento, ajuda dos monitores do Programa Mais Estudos, além da ajuda dos bolsistas da UFRB no programa PIBID-2020/2021.

Com a carga horária das ACCs, foram desenvolvidos projetos para Educação do Campo com ênfase na leitura e na Matemática. Na modalidade presencial desde o mês de setembro de 2021, os alunos continuaram no engajamento para a realização da Avaliação do SAEB, que foi aplicada no dia 25 de novembro de 2021 e com resultados divulgados no mês de setembro de 2022.

Com todas as dificuldades possíveis e inimagináveis, os estudantes das escolas do campo enfrentam as diversas desigualdades, invisibilidade e abandono social. A carga horária excessiva dos educadores da educação básica impõe um ritmo desumano de afazeres que são executados com resiliência, compromisso e responsabilidade.

Considerações finais

Em vista dos assuntos abordados, não se pode fechar os olhos à realidade das implicações dos recursos financeiros advindos da pasta da educação, que detêm valores absurdos que deveriam ser mais bem aplicados, tanto na estrutura física, formação de professores e salários dignos para profissionais que estão à frente da educação do país.

Identificar, pontuar e analisar os descritores que evidenciam resultados críticos dos conteúdos matemáticos que os estudantes não dominam, a exemplo da resolução de problemas, domínio de números e operações, dentre outros, constituem questões frustrantes tanto para os estudantes campesinos que veem distante a realização dos próprios objetivos, como também frustação para os docentes que buscam cotidianamente melhorias e transformações no currículo escolar, visando o crescimento pessoal e o engajamento social do indivíduo.

Além disso, alguns estados sofrem com o boicote de medidas que impedem a publicação e divulgação dos resultados, impondo regras sem objetivos claros que visam a não pontuação dos estados, colocando-os em um patamar desfavorável para implementação de projetos que melhorem a educação do estado e tenham um maior engajamento dos jovens estudantes para uma formação de qualidade e ingresso no mercado de trabalho e acesso ao ensino superior de qualidade. Vale ressaltar, mediante afirmação de Magalhães (2015, p. 92), que o currículo tem intencionalidade, ou seja, é selecionado a partir de relação de poder.

A educação do campo, ao buscar construir um novo referencial educacional, deve estar atenta a fortalecer em seus princípios a história e a cultura dos sujeitos sociais que moram no meio rural. Desta feita, transformar o currículo escolar levando em consideração as especificidades dos povos campesinos é um enfrentamento real e que continua nas discussões das escolas e comunidades pedagógicas, mas que precisam saltar do papel para a efetivação na sala de aula.

Referências

Arroyo, M. G. (2015). Escola: terra de direito. In M. I. Antune-Rocha & S. M. Hage (Orgs.), Escola de Direito: Reinventando a escola multisseriada (pp. 9-14). Autêntica Editora.

Brandão, C. R. (2006). A pesquisa participante e a participação da pesquisa: um olhar entre tempos e espaços a partir da América Latina. In C. R. Brandão & D. R. Streck (Orgs.), Pesquisa participante: a partilha do saber (pp. 21-54). Ideias & Letras.

Caldart, R. S. (2001). A escola do campo em movimento. In C. Benjamin & R. S. Caldart, Projeto Popular e escolas do campo. Articulação Nacional por uma Educação Básica do campo.

Ferreira, M. K. L. (1998). Madikauku: os dez dedos das mãos – Matemática e povos indígenas no Brasil. MEC.

Magalhães, L. de L. (2015). A lei nº 10.639/03 na Educação do Campo: garantindo direitos às populações do Campo. In M. I. Antune-Rocha & S. M. Hage (Orgs.), Escola de Direito: Reinventando a escola multisseriada (pp. 85-94). Autêntica Editora.


  1. UFRB, cunha.ruth75@gmail.com ↩︎
  2. UFRB, leila.damiana@ufrb.edu.br ↩︎